Habemus Papa!

Ou seria melhor dizer: “habemus tapas”?

Muito lamentável assistir à cena do Papa Francisco dando tapas em uma fiel, que segurou excessivamente a sua mão, quando cumprimentava fiéis na Praça de São Pedro.

Sou um apreciador das palavras e ações mundiais do Papa, desde que assumiu o posto maior da Igreja Católica.

Atos como esse, todavia, maculam o exemplo que ele deveria dar, de tolerância e de compreensão. Pior do que o ato, foi o pretenso “pedido de desculpas”, que, a meu ver, foi pouca coisa menos ruim do que o ato em si, pois Papa Francisco usou como defesa a sua condição de ser humano.

Sim, ele é falível. Mas dar tapas em alguém que provavelmente sofria, querendo um afago carinhoso, um aconchego na alma, mostra a intolerância que o Papa diz combater. Muitas pessoas buscam o toque, o contato físico com ele justamente pela aura de santidade que o cargo enseja. Por mais que eu, pessoalmente, discorde disso, muito interpretam o toque de um homem tido como santo como o próprio toque da divindade.

O episódio não deve comprometer o seu papado, que é recheado de boas ações e, principalmente, de uma postura vanguardista no combate a dogmas seculares, que já afastaram muitos fiéis da Igreja Católica.

Nunca a Igreja esteve tão exposta aos crimes históricos que pratica, há séculos, contra crianças pelo mundo afora. Nenhum papa abriu tanto para tratar dessa ferida infecciosa como o Papa Francisco.

Mas a cena é triste e difícil de se esquecer.

Quem quiser saber um pouco mais sobre a história do Papa Francisco, seria interessante assistir ao filme DOIS PAPAS, em cartaz na Netflix, que mostra muito esse “lado humano” do sumo pontífice, inclusive quando foi execrado pela opinião pública na Argentina, após a ditadura militar daquele país.

Excelente filme, que mostra, com rara felicidade, como alguém pode aprender com seus erros e tentar ser uma pessoa melhor. Tomara que Sua Santidade possa aprender, novamente, com seu lastimável erro, e entender que, mesmo não sendo perfeitos, não podemos agir contra o que pregamos, sob pena de, assim o fazendo, tornarmo-nos hipócritas.

André Mansur Brandão
Advogado e Escritor