Por que esperar a virada do ano se a vida começa a todo instante?

Há um ritual quase sagrado que se repete todos os anos: a contagem regressiva, a explosão de fogos, o brinde apressado, os abraços cheios de promessas.

Para alguns, o mar. Para outros, as ruas cheias. Para quase todos, a esperança de que agora vai.

O mundo inteiro, cada qual no seu fuso, parece conspirar para nos dizer: “Este será o ano em que tudo vai mudar!”

Mas eu lhe pergunto:

Por que esperar a virada do ano, se a vida se reinventa a cada segundo?

O calendário é uma invenção humana.
O dia 31 de dezembro não encerra nada — apenas uma contagem arbitrária que escolhemos respeitar.

A natureza não faz pausa.
A vida não faz pausa.
Os problemas não fazem pausa.
E o dever de viver continua.

Como diria Cazuza, “o tempo não para.”

Mesmo assim, entregamos a um único dia o poder que negamos aos outros 364.
É curioso. E injusto conosco mesmos.

Porque cada manhã em que acordamos vivos — com saúde, com força, com sonhos — já é, por si só, um ano novo.

Corremos para fazer listas:

  • “Vou emagrecer.”
  • “Vou ser alguém melhor.”
  • “Vou viajar.”

Mas, quando os fogos se apagam e as taças ficam vazias, o brilho nos olhos também se apaga. E o que sobra, muitas vezes, é apenas ressaca — física e moral.

Promessas viram poeira.
Planos morrem antes de nascer.
Como se a esperança tivesse prazo de validade.

Mas… e o AGORA?

O agora que pulsa nas veias.
O agora que arde nas escolhas.
O agora que grita, silencioso, pedindo uma chance.

A cada segundo, a vida nos oferece uma porta.

A grande revolução não mora na passagem do ano. Ela acontece no instante em que decidimos agir, romper padrões, abandonar vícios, deixar pessoas que atrasam nossos sonhos, abraçar quem nos fortalece.

Não está no calendário. Está na coragem.

De que adianta esperar meia-noite se o mundo continua girando?
De que adianta pedir recomeços se você desperdiça o único momento real que possui — o segundo presente?

Há um ano novo em cada manhã que nasce.
Em cada tarde que insiste.
Em cada noite que recolhe o cansaço e planta esperança.

Talvez seja isso que esquecemos: a virada é constante.

Nada pertence a um único instante.
Tudo pertence ao próximo passo, ao próximo gesto de amor, à próxima escolha.
Ao próximo segundo.

Quando o calendário girar novamente, lembre-se:
Você já viveu dezenas, centenas, milhares de recomeços — e nenhum deles esperou o dia 31.

Não foi o calendário que mudou você.
Foi você.
E pode fazer isso de novo.

Hoje.
Daqui a pouco.
Agora.

A cada dia em que acordo vivo, agradeço a Deus pelas infinitas chances que Ele me concede — mesmo quando o dia termina difícil.

A gratidão é o que sustenta a fé.
E a fé é o que sustenta a certeza de que o próximo segundo pode transformar tudo.

Aproveite cada fração de tempo.
Porque, dentro da eternidade que dura um instante, uma vida inteira pode começar.

A verdadeira virada não depende da meia-noite.
Depende de nós.

Feliz próximo segundo.


André Mansur Brandão
Advogado

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